29 de dez. de 2014

Thiago França abre suas janelas fotográficas pelas ruas recifenses

Com incentivo do Funcultura, o projeto do fotógrafo pernambucano já circulou por Goiana, Triunfo e Garanhuns ao longo deste ano, e, neste fim de dezembro, chega à capital pernambucana.

“O que é isso na minha parede? Pode retirar agora!”, disse assustado um morador da cidade de Goiana (na Zona da Mata pernambucana) ao fotógrafo Thiago França assim que viu pendurada, em seu muro, uma janela com várias imagens inseridas. 

Embora estivesse trabalhando há vários meses naquelas intervenções artísticas, França ficou surpreso com a reação afobada do dono da casa e, meio sem saber o que dizer, decidiu descer da escada e tentar explicar de que se tratava seu projeto. “Como o Janelas Fotográficas tem a finalidade de se integrar à geografia da cidade, temos que bolar algo que suporte bem as intempéries do clima. E, naquele momento, isso significaria que teríamos muito mais trabalho para remover a estrutura da parede do que para finalizá-la. 

Para acalmá-lo, pisquei para o meu ajudante e pedi que ele “retirasse” tudo o que havíamos feito até ali, tal qual o senhor havia pedido. Depois de uns 15 minutos de conversa, ele não só permitiu que a obra ficasse na fachada de sua residência, como me indicou locais que deram muito mais visibilidade ao meu trabalho na cidade”, contou o artista ao Cultura.PE sobre as surpresas que teve ao longo deste ano, com a sua iniciativa de espalhar arte em “espaços esquecidos/desprezados” pela maioria das pessoas.

Com incentivo do Funcultura, a ação artística de Thiago chega ao Recife depois de passar por Goiana, Triunfo e Garanhuns, e convida a repensar a relação com o meio e a redescobrir a intimidade com os lugares. A ideia do projeto nasceu de maneira despretensiosa, como conta o próprio Thiago: “tenho uma mania antiga de reaproveitar materiais descartáveis que acho pela rua. Nesse caso, foi uma janela que encontrei enterrada no mangue da Rua da Aurora. Após alguns dias lá em casa, me veio a ideia de misturar as imagens que produzia com aquele objeto que havia encontrado dias antes e criar uma exposição a céu aberto, no meio urbano. Utilizando materiais ao mesmo tempo banais e valiosos, consigo suscitar o debate sobre a modificação do espaço ao abrir um portal num lugar remoto”, disse o idealizador.

Por onde foram deixadas, as janelas causaram diferentes reações, de surpresas a estranheza. “Comecei a buscar uma maneira de, realmente, integrar as janelas aos lugares. Torná-las parte daquilo tudo. Essa era a ideia original, que a obra de arte valorizasse aquele local através do apego das pessoas por ela. As pessoas tinham que estar envolvidas para que tudo desse certo. Tinha que ser o tipo da coisa que você simplesmente gosta, sem explicação. Era tudo muito mais simples do que eu pensei no início”, descreve o artista.


Na capital pernambucana, o trabalho de França poderá ser encontrado em vários pontos do centro da cidade e também em bairros mais afastados, como: Cais de Santa Rita, Mercado das Flores, Beco do Fotógrafo, Rua da União, Avenida Visconde Suassuna, Rua do Riachuelo, Rua da Aurora, Rua Mamede Simões, Avenida Dantas Barreto, Recife Antigo, Mercado de Casa Amarela, Praça da Várzea, Avenida Norte, Estação do Metrô Aeroporto Boa Viagem, Brasília Teimosa, Mercado da Encruzilhada, Cordeiro – próximo ao Hospital Getúlio Vargas, Dois irmãos – perto da UFRPE, e no Mercado da Madalena. ”Quero que as pessoas se apropriem da minha arte e que ela se torne um ponto referencial nos espaços urbanos, uma vez que as obras são deixadas permanentemente nos locais em que são expostas e passam a compor a paisagem”, afirmou o artista, que pretende estender o projeto em 2015.

Sobre o artista
Thiago França é fotógrafo, nasceu no Recife e viveu 17 anos no Acre. Retornou à cidade natal há 6 anos e vem fotografando o cenário Pernambuco por todo esse tempo. Em seu trabalho, busca uma reflexão sobre a relação entre o cidadão contemporâneo – para ele, cada dia mais frenético – e o meio em que vive. Vem experimentando o uso da fotografia em diferentes linguagens e, paralelamente, o reaproveitamento de materiais descartados no lixo, principalmente madeira.

Postado em: Artes Visuais e Fotografia | Funcultura  

Nenhum comentário:

Postar um comentário