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Foto: Peu Ricardo/Esp DP |
O polo automotivo Jeep completa um ano. Nos limites do empreendimento o avanço é notório. São oito mil empregos gerados na operação. Além disso, a planta já produz dois modelos e se prepara para lançar o terceiro carro com selo pernambucano. Já no município, o avanço não segue o mesmo ritmo. Como as obras da construção civil praticamente chegaram ao fim, a cidade viu o movimento cair e agora luta para não ficar no prejuízo. É justamente este contraste que apresentamos no especial “Entre sonho e realidade”. São os dois lados do empreendimento e dos que o cercam.
Jogando para ganhar na fábrica
Montadora de última geração virou o sonho de jovens em busca de oportunidades fora dos setores econômicos tradicionais de Goiana e cidades vizinhas.
Um sonho que se tornou realidade. Assim, muitos classificam o Polo Automotivo Jeep, localizado em Goiana, na Zona da Mata Norte do estado. Pessoas que nunca pensaram em trabalhar em uma indústria ou que até sonhavam com um emprego na área industrial, mas não na automotiva, estão lá na linha de montagem contando histórias enquanto fabricam carros. O Polo Automotivo Jeep emprega hoje 8 mil funcionários. Muitos deles contratados logo nas primeiras seleções. Pessoas que descobriram uma nova profissão e assim seguem buscando novos desafios no empreendimento.
Nos corredores do parque fabril, é difícil distinguir quem é chefe e quem é subordinado. Todos usam o mesmo uniforme. Um símbolo no crachá representa a hierarquia. As equipes são chamadas de times, que são comandadas por líderes. No lugar de sirenes de alerta, músicas. Cada time com a sua. Reuniões acontecem diariamente. Não em salas fechadas. Em um canto reservado da planta. Sem paredes ou formalidades. É a forma encontrada para aproximar as pessoas.
Com um rígido programa de capacitação, com foco no desenvolvimento do perfil de lideranças, a ideia é aproveitar ao máximo a mão de obra local. Por isso, muitos dos pernambucanos que entraram no empreendimento para ocupar um cargo na linha de produção hoje estão capacitados, lideram equipes e se dizem prontos para encarar novos desafios profissionais. Ao mesmo tempo, quem foi capacitado fora do país para importar sistemas produtivos agora se prepara para realizar o caminho inverso: exportar sistemas e conhecimentos.
Se há um ano, os sentimentos eram de euforia e incertezas. Agora, o que se vê é um misto de perseverança, foco e muitas expectativas. Os empregos e crescimento profissional são o principal legado pernambucano. O que está no subconsciente de muitos e na rota da montadora, que promete manter as contratações.
Jeep consolida sua indústria no estado e avança rumo ao futuro
Um ano depois de inaugurado, na Zona da Mata Norte, montadora já está a caminho de produzir terceiro modelo em Pernambuco
Há exatamente um ano, a presidente Dilma Rousseff chegava ao estado para inaugurar o Polo Automotivo Jeep, localizado em Goiana, Zona da Mata Norte pernambucana. O empreendimento, que representa um investimento de R$ 7 bilhões, é um dos mais emblemáticos do estado. A mudança começa com a alteração na matriz econômica da região. O terreno, que antes abrigava uma plantação de cana-de-açúcar, agora é palco da mais moderna fábrica de automóveis do mundo. Após 365 dias, o projeto mostra a superação da qualificação da mão de obra e comemora o sucesso do empreendimento.
Hoje, são fabricados 45 carros por hora, algo entre 450 e 480 veículos por dia. A produção é dividida entre o Jeep Renegade e o Fiat Toro. “Os carros produzidos no Polo Automotivo Jeep já têm clientes definidos e entram na programação diária da manufatura”, diz o comunicado do grupo Fiat Chrysler Automobilies (FCA). O número de veículos com selo pernambucano será ampliado em breve.
Na linha de produção, entre um Toro e um Renegade, já é possível observar um terceiro modelo. É que a planta já dá os primeiros passos para fabricação de mais um veículo. Os testes já tiveram início e o lançamento deve acontecer até o final do ano. Na atual configuração, a planta tem capacidade instalada para produzir até quatro modelos diferentes de forma simultânea. A capacidade instalada da unidade produtiva é de 250 mil veículos/ano. Seguindo o cronograma traçado logo no início da construção da fábrica, o objetivo deve ser atingido já no próximo ano, quando o quarto modelo começará a ser fabricado em solo pernambucano.
NÚMEROS DA JEEP
Fonte: Fiat Chrysler Automobiles (FCA)
Apesar da ampliação do número de veículos produzidos, o grupo desconversa quando o assunto é aumento do parque fabril. “A planta possui um layout inovador e já preparado para expansões. A fábrica Jeep está concentrada no seu processo de ramp up, ou seja, escalada de produção. No momento certo serão discutidas futuras ampliações.”
Além do parque fabril e do parque de fornecedores, formado por 16 empresas, o Polo Automotivo conta com três restaurantes (dois na Jeep e um no parque de sistemistas). São 11 mil refeições servidas diariamente. Pelos cálculos da montadora, em torno de 40% dos trabalhadores, devido ao horário de expediente, terminam por realizar duas das refeições diárias dentro dos limites do polo.
Recentemente, o grupo também inaugurou um centro médico, integrada ao chamado People Center, um espaço multiuso construído e projetado para atender aos profissionais. O local contempla desde uma central de atendimento personalizada para tirar dúvidas trabalhistas a uma estrutura de médicos. Os números deste setor chamam a atenção. A unidade emergencial possui estrutura capaz de realizar 200 atendimentos por dia, urgência 24h em nível pré-hospitalar, duas ambulâncias, equipamento de raio x digital e sala vermelha para duas emergências simultâneas.
Fornecedores são estratégicos
As 16 empresas sistemistas que atendem a unidade em Goiana são responsáveis pela entrega de 2,9 milhões de peças por dia para a Jeep
A produção do Fiat Toro e do Jeep Renegade demanda 2,9 milhões de peças por dia. Para atender a este enorme pedido, 16 empresas fornecedoras integram o polo. Magneti Marelli (sete plantas), Pirelli, Tiberina, Saint-Gobain, Lear, Denso, Brose, Revestcost, PMC e Adler são as empresas instaladas no local. Juntas, elas produzem 17 linhas estratégicas para o parque fabril. O parque de fornecedores, ou sistemistas, como também são conhecidos, responde por 40% dos 80% de conteúdo nacional presente nos veículos produzidos em Pernambuco.
“Esse percentual de nacionalização é alto e é um fato notável, pois o índice alcançado é muito superior ao que se observa de modo geral em fábricas em início de produção”, destaca a Fiat Chrysler Automobilies (FCA) em comunicado. Devido o layout da planta automotiva, os produtos fabricados no polo chegam no momento certo, na hora certa e para o carro certo na linha de produção. Tudo é produzido sob demanda.
Para a fabricação dos veículos na planta também são importados componentes da Europa, do Nafta (EUA, Canadá e México) e, em menor quantidade, da Ásia. De dentro do país, além dos produtos que saem do polo de fornecedores, as peças são fornecidas por empresas de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Sergipe.
Para a operação de entrada de componentes produzidos fora do parque de fornecedores, a solução adotada pela FCA é o conceito de cross-docking, que centraliza a recepção dos componentes nacionais. Os cross docks, galpões que recebem as mercadorias temporariamente, foram instalados em Minas Gerais e em São Paulo e estão distantes 2,1 mil e 2,8 mil quilômetros de Goiana, respectivamente.
Com os carros prontos, a hora é de levar os veículos ao destino final. O transporte é realizado pela empresa Sada. Segundo informação do diretor comercial da Sada, nos últimos 12 meses, em média, são realizadas 40 viagens por dia. Em média, os principais destinos são Sul/Sudeste (70%) e Norte e Nordeste (30%) brasileiros.

Teste de paciência na estrada
Falta de mobilidade é um dos entraves para o escoamento da fábrica da Jeep em Goiana. Veículos enfrentam buracos e engarrafamentos
O relógio mal marcava 7h quando surge a primeira carreta saindo do Polo Automotivo Jeep, em Goiana, Zona da Mata Norte pernambucana. Pouco tempo depois, vieram outras. Pelo menos quatro. Todas carregadas de Fiat Toro e Jeep Renegade, os veículos fabricados na planta pernambucana. Os destinos eram distintos e o Diario acompanhou o trajeto de uma delas para ver o desempenho dos veículos de grande porte nas estradas pernambucanas.
Apesar do horário não ser de pico no sentido Goiana/Recife, não se andou muito até que a primeira retenção acontecesse. Logo na entrada de Abreu e Lima, um congestionamento. O fluxo de veículos se tornou lento devido aos buracos na rodovia. Ao perceber que estavam sendo gravandos, muitos motoristas mandavam recados. “Todo dia é isso.” “O problema é um buraco lá na frente.” “Aqui não tem hora para o trânsito.”
De fato, era um buraco. Os carros que transportavam os veículos vindos da Jeep faziam uma verdadeira manobra para ultrapassá-lo. “Um teste de paciência”, como disse um dos motoristas presos no congestionamento. Foram 35 minutos entre a entrada da fábrica e Abreu e Lima. A partir daí, mais 30 minutos seguindo lentamente pela BR-101 até as imediações da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Acontece que, quando decidiu construir uma montadora em Goiana, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) sabia dos problemas de mobilidade mas, na época, a saída foi a construção do chamado Arco Metropolitano, rodovia que ligará a BR-101 Norte, em Igarassu à BR-101 Sul, no Cabo de Santo Agostinho. O problema é que o projeto hoje está a cargo do governo federal e sem previsão de sair do papel. Por isso, o tema mobilidade se tornou recorrente nas reuniões realizadas entre os diretores da FCA e do governo do estado.
“Abreu e Lima é um trecho urbano. Os dez quilômetros que passam por lá complicam todo o percurso. Por isso estamos trabalhando vias alternativas até que o miniarco (rodovia de 14km que será construída no local por meio de uma concessão) entre em operação”, disse o secretário executivo e Transportes de Pernambuco, Antônio Cavalcanti Júnior.
Jovens em busca do emprego
Passado o boom gerado pela construção da fábrica, moradores procuraram na formação técnica oportunidade de vaga na indústria
Quando o governo de Pernambuco anunciou, oficialmente, a chegada da fábrica da Jeep a Goiana, em julho de 2011, a pequena cidade da Zona da Mata Norte entrou numa espécie de transe. Encravado entre duas usinas e com uma sustentação econômica atrelada ao setor sucroalcooleiro, o município passou a enxergar um futuro promissor: novas oportunidades no mercado de trabalho, dinamismo no comércio, educação inovadora, progresso.
O cenário, de fato, se transformou. A rotina de tranquilidade comum a algumas cidades interioranas, mudou. A população passou a vislumbrar dias melhores e uma chance de transformação de vidas. A educação foi um dos segmentos que buscou, de imediato, participar do “eldorado” que surgira. A intenção dos estudantes que buscavam os cursos técnicos profissionalizantes era fazer parte do Grupo FCA.
“Durante os três anos de construção, instalação e o primeiro de operação da fábrica da Jeep, a procura por capacitação profissional foi intensa e vai continuar, até porque Goiana recebeu outros empreendimentos de grande porte, como o Polo Farmacoquímico e o Vidreiro. O Sistema S, através do Senai, Sebrae e Sesi, foi determinante para que Goiana entendesse a importância desses projetos”, diz Walter Fernando Silva, franqueador da Escola Técnica Pernambucana (ETP).
Na ETP, de acordo com o gestor, cerca de 800 alunos estão matriculados e cursando, simultaneamente, os cursos subsequente, equivalente ao aprendizado técnico-profissionalizante, à noite, e o concomitante, equivalente ao ensino médio, pela manhã. Há 17 anos, conta Walter, graduado em eletrotécnica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), a metodologia de ensino é aprovada pelos alunos, o que garante a eficiência dos métodos de aplicação integral.
Nos corredores e salas da escola, os alunos reforçam o desejo de fazer uma carreira profissional voltada ao desenvolvimento de Goiana e região. Eles não querem ser coadjuvantes, e sim protagonistas desse enredo. “Inicialmente, quando um grande investimento se estabelece e não é do perfil do município, a população não sofre muito o impacto porque a maioria não tem qualificação. O benefício é para gerações futuras”, explica Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE.
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